Métodos de avaliação da prestação anaeróbia
A prestação em diversas competições de Atletismo só é conseguida através de uma grande contribuição do metabolismo glicolítico de modo a se poder recorrer a uma fonte energética de grande potência. Deste modo, a capacidade de rendimento dos atletas não está apenas dependente de reservas energéticas e mecanismos de compensação metabólica, mas também da capacidade do atleta em produzir e tolerar grandes concentrações de lactato (24). Para tal, a utilização de testes de avaliação do rendimento anaeróbio tem sido uma preocupação de vários investigadores na procura de parâmetros avaliadores deste tipo de esforço. No entanto a potência anaeróbia máxima, a atividade enzimática e a percentagem de fibras rápidas são diferentes entre atletas de diferentes disciplinas, bem como os valores máximos de lactato obtidos num esforço máximo, traduzindo uma relação direta entre a utilização do glicogênio e a quantidade de fibras rápidas existentes no músculo.
A impulsão vertical, força, resistência muscular e lactato sanguíneo são indicadores frequentemente utilizados para avaliar a prestação anaeróbia apresentando uma correlação muito elevada com o valor percentual em fibras rápidas. Este fato é bem evidente quando, por exemplo, comparamos a porção de fibras rápidas entre corredores de meio fundo (47.8%) e atletas de fundo (34.6%).
Deste modo, várias técnicas distintas têm sido utilizadas para quantificar os níveis da prestação anaeróbia, incluindo medições de metabólitos da atividade muscular, débito de oxigênio e o défice máximo de oxigênio acumulado. Na avaliação anaeróbia podem assim ser utilizados métodos invasivos e não invasivos. As medições invasivas permitem-nos obter informações acerca do trabalho anaeróbio, nomeadamente através de mensurações dos níveis de ATP, PCr e lactato, enquanto outros métodos indiretos nos dão valores estimados habitualmente com menor fiabilidade.
No entanto, quando procuramos aplicar e agrupar diferentes testes para avaliar a capacidade de rendimento anaeróbio, surgem-nos diversos problemas terminológicos que, por vez, chegam mesmo a gerar discordâncias entre diferentes autores na aceitação de diversos métodos de avaliação. Alguns autores diferenciam os métodos de avaliação por intermédio de testes muitos curtos e curtos, tendo os primeiros uma duração de máxima de 10” e os segundos uma duração de 20 a 60”. A prestação anaeróbia também pode ser definida em termos de potência anaeróbia, para esforços até 10”, capacidade anaeróbia intermédia (entre 10 e 30”) e capacidade anaeróbia de longa duração (de 30 a 90”).
Outros autores definem a realização de testes de avaliação da prestação anaeróbia em testes anaeróbios de curta, média e longa duração, com duração de esforço respectivamente de 1 a 10”, de 20 a 50”, e a de longa duração entre 60 e 120”. Neste contexto e tendo em conta esta controvérsia, optamos por caracterizar os testes anaeróbios da seguinte forma:
1. Testes para avaliar a potência anaeróbia aláctica – Esforços de duração até 10” de esforço máximo.
2. Testes para avaliar a potência anaeróbia láctica – Esforço de duração entre 20 a 50” de esforço máximo.
3. Testes para avaliar a capacidade anaeróbia láctica – Esforços de duração entre 60 e 120” de esforço máximo.
- Testes de corrida
Para avaliar a capacidade de corrida em diversas modalidades, foram desenvolvidos diversos protocolos específicos para determinadas modalidades. Podem ser realizados vários testes distintos avaliando diminuições de rendimento em diferentes fases de uma corrida bem como diferenças de rendimento entre diferentes corridas. Todos esses dados podem ser obtidos e relacionados, podendo ainda ser possível utilizar cintos ergométricos, medições de VO2 e lactato sanguíneo em diferentes distâncias. As distâncias utilizadas para este tipo de testes são normalmente muito curtas, variando entre os 10 e 60m.
- Testes isocinéticos máximos
Os testes isocinéticos permitem avaliar o rendimento anaeróbio para determinados grupos musculares podendo ser adaptados às necessidades de cada modalidade. Podem-se, por exemplo, desenvolver protocolos específicos para avaliar o rendimento anaeróbio dos músculos flexores e extensores da perna pra corredores. Deste modo, torna-se possível determinar diferenças entre corredores acerca da sua potência muscular específica de acordo com as necessidades musculares que cada competição envolve. De qualquer modo, este tipo de teste é sempre realizado em situação laboratorial muito determinada.
- Teste de duas velocidades
O teste de duas velocidades é efetuado numa pista de 400m sintética, com a realização de duas repetições numa determinada distância, sendo a primeira percorrida a uma intensidade submaximal (80-85%), de modo a se obterem concentrações de lactato entre 4 a 6 mmol/L e a segunda a uma intensidade máxima (>95%) com concentrações finais de lactato superiores a 10 mmol/L. A duração dos patamares deverá ser de 30” a 6’, de acordo com o protocolo definido; no entanto, para avaliação da potência (até 60”) ou capacidade anaeróbia, o tempo de duração não deverá ultrapassar os 2’ de esforço. Após cada repetição, são obtidas recolhas sanguíneas no 1°, 3°, 5°, 7°, 10° e 12° minutos após o esforço, de modo a se poder encontrar o valor máximo de lactato. O tempo de recuperação entre as duas repetições deve ser de cerca de 25’, de modo a permitir uma recuperação completa do esforço. As distâncias normalmente utilizadas oscilam entre os 300m (para corredores de 800 a 1500) e 1750m (para maratonistas). No entanto, a escolha de distâncias mais curtas induzirá sobrevalorizações dos resultados obtidos, pelo que se torna necessário que a definição das distâncias para o teste estejam de acordo com a distância de competição e com o tipo de avaliação que se pretende realizar. A adoção de distâncias mais elevadas induz naturalmente num contributo aeróbio mais elevado, podendo, por isso, utilizar-se este teste também para avaliação da capacidade aeróbia.
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